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                    BUENOS AIRES, UMA VEZ MAIS...   
                  13 A 17 outubro 2003 
                     
                  Depois de muitos anos, volto a firmar  um novo círculo de amizades em Buenos Aires. As pessoas que eu conheci por lá  nas viagens dos anos 60, 70 e 80, perdi contato com elas... Algumas morreram —  Manuel Mujica Láinez, as três tias dele, Roberto Gitz — outras desapareceram,  como a querida Cecília Vaquero.  
                    Entre os novos amigos estão os poetas Eduardo Dalter (Revista Cuaderno  Carmin de Poesía) e Rodolfo Alonso é a pesquisadora-bibliotecária Susana  Romanos de Tiratel. 
                    Quis voltar à cidade platina, aproveitando umas milhagens (por vencer) da VARIG  e levei o Nildo comigo. Hospedamo-nos no Hotel de Las Américas, em plena  Avenida Corrientes, esquina Esmeralda, a duas quadras da calle Florida. É o  pleno centro de Buenos Aires, na região dos grandes teatros. Aproveitamos a  primeira noite para assistir à ópera-rock Hair, espetáculo que comoveu a  juventude “riponga” dos anos 60. Eu assisti, no início da década de 1970, em  Nova Iorque. 
                   
                    Dizem que o meu espetáculo “Tu País Está Feliz” tinha que ver, por sua  rebeldia, pelos desnudos, pelas canções de protesto, com a peça  norte-americana. Francamente, não concordo. Eu só vi a versão norte-americana  bem depois da estréia de “Tu país...” enquanto que Hair, disseminado nas  montagens teatrais latino-americanas da época. 
                    No meu caso particular, se é para reconhecer origens e influências, elas  proveem das peças e shows que aconteciam no Brasil à época (entre 1962 e 1966),  época em que fui de mudança para Caracas). 
                    A sessão teatral argentina, com letras e textos em espanhol, foi boa, bastante  profissional. O público, alguns cinquentões e sessentões, vibrou muito  numa espécie de empatia saudosista, pois a  mensagem parecia bem datada, com referências à guerra do Vietnã, à igualdade  racial, pela liberação sexual. Eu tinha 22 anos de idade quando da estréia...  
                    Aliás, Hair, seria uma alusão a hippies cabeludos daqueles tempos... 
                    
                  Na 3ª. feira, dia 14, Nildo e  eu fizemos o propalado do “city tour” oferecido pala empresa de turismo. Um  tanto óbvio para mim que já conheço bem a cidade mas, certamente, importante  para o estreante Nildo.   
                    Tiramos muitas fotos na praça em que está o Cabildo, a Catedral e a Casa  Rosada, no início da Avenida de Mayo. Depois fomos para o bairro de La Boca,  com uma parada em frente ao estádio La Bombonera, do time Boda, do Maradona. 
                    Tivemos que ouvir as mesmas piadinhas de sempre sobre a rivalidade Boca x Independentes  e referência à disputa de popularidade entre Pelé e Maradona, tema sem  interesse para nós. 
   
                    Passamos ao longo de Puerto Madero, a nova atração urbanística e turística  bonaerense, seguimos para Palermo e La Recoleta, regressando depois ao centro  da cidade pela Avenida 9 de Julio. 
                    Fomos despejados nas lojas especializadas em couros e caxemiras, próximo à  Avenida Cordoba e Lavalle, a tempo pra um almoço no trajeto, à pé, de volta  para o nosso hotel. 
                    Apesar da crise, havia muito movimento nas ruas, nas lojas, nos cafés. 
                    Pela tarde, veio buscar-nos minha amiga Susana, para uma visita à Faculdade de  Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires. Ela está sempre alegre,  sempre cordial. 
                    Conhecemos a Escuela de Bibliotecología, a área dos pesquisadores (que ela  dirige) e o acervo da biblioteca — são  mais de 300.000 exemplares, com uma coleção de obras raras digna de  reconhecimento. Obras clássicas francesas, incluindo os originais da  Encyclopedie Française, de Diderot e D´Alembert (ainda em uso, aberta ao  público na sala de Referência) e obras em alemão bem refletem a cultura  europeizante das classes sociais predominantemente na Argentina no início do  século passado. 
                      O sistema de catalogação é arcaico, o programa de automatização superado. As  condições de conservação das obras é precário, com riscos de goteiras e de  inundações que, de tempos em tempos, provocam verdadeiras catástrofes  bibliográficas. É triste ver um patrimônio estimável sem as condições mínimas  de preservação. 
 
                  Terminamos num café de  calçada na praça de Palermo, conversando sobre nossas viagens anteriores (à  Venezuela, ao México, a Porto Rico) e sobre os projetos profissionais em  curso), comendo e bebendo em clima de alegria e congraçamento. 
É bem diferente ir a um país e poder conversar com gente amiga, trocar  impressões e experiência em vez de ficar confinados aos passeios programados,  aos pacotes turísticos. 
 
Pela noite fomos para uma leitura de poemas no bar La Dama de Bollisne.  Estava cheíssimo, muitos aplausos.  Chegamos na hora final do recital, ao encontro com o poeta Eduardo Dalter, no  momento em que serviam macarrão grátis aos visitantes. Uma experiência pouco  habitual aquela da leitura de poesias, mas tão comum ainda em Buenos Aires.  [Dalter acertou com os proprietários uma apresentação de meus poemas na noite  seguinte. 
[ 15-10-2003] 
O poeta Rodolfo Alonso programou uma visita à Biblioteca Nacional. 
[O livreiro Yannover, o diretor anterior, que eu visitei no ano passado,  faleceu recentemente.] O novo Diretor — o poeta Horácio Sales — estava viajando,  mas deixou-me o livro “Dar de Nuevo” com as boas-vindas.  
Os nossos anfitriões foram os poetas Moore   e  Santiago Silvester, com quem almoçamos  no Café del Lector. O Silvester conviveu com o escritor Manuel Mujica Láinez e  contou-me muitas histórias de nosso saudoso amigo. Silvester é assessor da  Biblioteca, viveu muitos anos na Espanha, é oriundo de Salta, uma província “norteña”. 
Terminamos o recorrido pelos jardins da Biblioteca, junto a uma escultura com o  rosto de Manuel Mujica Láinez — nosso amigo Manucho, a quem reverenciamos  tomando fotos juntos para marcar o nosso encontro. 
 
Seguimos com Roldolfo Alonso para o Centro de Estudios Brasileños, para fazer  uma doação de nossas obras mais recentes. Fiquei bastante emocionado ao  deparar-me com um exemplar de meu livro (uma edição artesanal limitada) Versos  Itinerantes — Amazônia que foi enviado de Caracas pelo Consulado do Brasil,  no ano de 1968!!! 
Pela noite, no Café La Dama de Bolline aconteceu a leitura de meus poemas,  conjuntamente com a apresentação de dois poetas norte americanos. Um deles,  Craig Zzury, teve os seus versos traduzidos por Esteban Moore (com quem havíamos  almoçado horas antes !). 
Dalter fez a apresentação de minha obra, fazendo referência a uma resenha  assinada por José Vicente Rangel, hoje figura de proa do governo do presidente  Chávez. Eu, respondendo a uma pergunta do 
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